Pela Redução do Jornal Policial
 

Publicado em quinta-feira, 30 de julho de 2015 às 17:11

 
Os grandes veículos de comunicação no Brasil nunca estiveram de fato ao lado dos pobres, pretos e periféricos, mas pior que isso, é perceber que cada vez mais eles passam a agir diretamente contra essa parcela da população.

A “TV aberta” se tornou uma espécie de coliseu contemporâneo, onde a barbárie ganha status de entretenimento, onde o policial que mata um indivíduo desarmado é aplaudido, onde nossa juventude em vez de educada é criminalizada e onde é disseminada uma cultura de desinformação.

E são nesses canais de comunicação que os jornais policiais têm ganhado cada vez mais espaço. Isso em um país que não superou suas desigualdades sociais, mas cujo minuto do anuncio televisivo chega a atingir, sem muita dificuldade, a cifra de milhões de reais.

Se considerarmos somente os jornais de José Luiz Datena e Marcelo Rezende estaremos falando de cerca de 30 horas semanais no ar o que significa, portanto, um pesado investimento, por parte das emissoras de TV neste tipo de programa.

Pensemos, porém, que todo esse tempo que poderia ser usado com foco na informação qualificada sobre estatutos legais importantes como o Estatuto da Criança e do Adolescente LEI Nº 8.069/90, o Estatuto da Juventude LEI Nº 12.852/13, o Estatuto da Igualdade Racial LEI Nº 12.288/10, ou ainda para discutirmos direitos e cidadania. Mas em vez disso, tragicamente, é direcionado para o sensacionalismo, para a banalização dos direitos humanos e, para apologia à violência baseada em um moralismo conservador.

Note caro leitor: Tanto Datena quanto Rezende são representantes modelo de uma elite branca e conservadora encastelada nos condomínios de luxo em bairros “nobres” de SP.

Desta forma as pautas conservadoras se apresentam muitas vezes travestidas em valores cristãos, banalizando direitos, pedindo a morte como quem pedisse a justiça.

São frases como “Esse sujeito não tem Deus”, “A família é sagrada”, “As Leis são fracas”, “Tem que ter pena de morte”.

Mas ter ou não ter um Deus determina nossas atitudes? A família de quem é sagrada? As Leis são fracas pra quem? Para quem se está defendendo a pena de morte? Qual o perfil dessas pessoas? O gênero? A idade? Qual origem social e escolaridade? E, principalmente, qual a raça?

Não nos deixemos enganar nas respostas, pois a esmagadora maioria das vítimas de homicídio no Brasil são jovens negros e periféricos, 70%, na faixa etária de 18 a 29 anos, cujo principal motivo das mortes é a violência policial. São cerca de 50 mil mortos por ano, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Contudo, a violência letal contra jovens brancos tem diminuído enquanto que a mesma violência contra jovens negros têm aumentado. Isto é, para juventude negra pena de morte já existe e é praticada de forma não oficial pelo Estado. Importa saber agora o quanto toda essa violência não está legitimada nesses discursos de ódio.

O racismo no Brasil possui a característica de se camuflar nas práticas sociais. Ou seja, embora as pessoas não se assumam racistas, suas praticas o são. Assim, o discurso de ódio veiculado por esses “jornalistas” Brasil a fora tem sustentado uma onda de preconceitos que se volta diretamente contra os grupos sociais mais vulneráveis, principalmente, contra população negra e periférica.

É preciso combater o racismo identificando como ele opera e principalmente operando contra as estruturas que o sustentam. Nesse sentido a luta contra a redução da maioridade penal é parte do enfrentamento ao racismo institucional à medida que se posiciona contra praticas racistas de incentivo a violência e ao encarceramento em massa presentes no discurso de certos apresentadores de TV.

Os Jornais Policiais desinformam e discriminam, reproduzindo falas intolerantes e extremistas, o que aprofunda e espantosa insensibilidade para com o extermínio de milhares de jovens negros(as) por ano no Brasil, o que prejudica a luta do movimento negro e consequentemente o avanço do acesso de negros e negras as oportunidades 120 anos após a dita abolição.

Artigo originalmente publicado no Portal Áfricas
 
Fonte - Carta Maior