Tarso Genro: "Temer perdeu o apoio do oligopólio da mídia e não vai se sustentar"
 

Publicado em quinta-feira, 25 de maio de 2017 às 13:43

 
Transcorrido menos de um ano do afastamento definitivo de Dilma Rousseff da presidência da República, o assunto brasileiro é novamente o impeachment ou renúncia de um presidente. Depois da conversa gravada pelo dono da JBS, Joesley Batista - em que ele fala com Michel Temer sobre planos para barrar a Operação Lava Jato - o assunto ganhou as tribunas do Congresso, as ruas e os telejornais.

As únicas questões discutidas no Brasil passaram a ser: Temer vai renunciar? Quando vai renunciar? E, se renunciar, o que pode acontecer depois? O cenário é tão ou mais incerto do que o que precedeu o impeachment de Rousseff. O ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro da Educação, Tarso Genro (PT), conversou com o EL PAÍS sobre o volátil cenário político brasileiro. Os destaques da conversa estão abaixo.

Pergunta. Temer disse que não vai renunciar. Um presidente na situação em que ele está é sustentável?


Resposta. Não, mesmo porque a Globo, que foi o “partido político” que deu sustentação para o impeachment de Dilma Rousseff, acabou de publicar um editorial retirando seu apoio. Portanto, o apoio principal do Temer, que é o oligopólio da mídia, está se retirando. Com isso, ele perde mais da metade da base dele, que é uma base política que não tem sustentação ideológica ou programática. É aquele resíduo oportunista e fisiológico que sempre tem um papel de desempatar questões políticas que estão no Congresso. Por isso, acho que não se sustenta. Acredito que ele vai revisar sua posição e vai renunciar.


P. Em sua opinião, a base aliada abandona o Governo a partir de hoje, então?


R. Sim. Eu tenho convicção disso. Porque a manutenção do Temer no Governo tinha uma profunda vinculação com as reformas – principalmente a da Previdência e a Trabalhista – e já se viu no primeiro baque que grande parte da bancada começou a se retrair. Agora, aprová-las representaria um duplo sacrifício: a impopularidade de passar reformas antipopulares e o ônus de manter Temer com todo o cerco político e jurídico em que ele se encontra.

P. Você disse que Temer perdeu o apoio que tinha na mídia, o que mudou para que isso acontecesse?
R. A estabilidade do Governo dele, e o apoio da mídia que ele tinha, estava vinculado a passagem e aprovação das reformas. Como elas estão bloqueadas pela crise, ele não serve mais. Há, em boa parte da sociedade brasileira, uma crítica muito forte ao apoio que Temer ganhava da mídia – a despeito de ter oito ministros investigados – e ao cerco ao qual o PT era submetido.

Agora, como as delações da JBS saíram junto com as gravações, ou seja, combinadas com provas, a mídia caiu em uma armadilha em que é obrigada a tomar uma posição pública como se fosse um desague natural de posições anteriores. É uma espécie de mea-culpa­, já que as acusações contra Temer e PSDB são infinitamente mais sustentáveis do que as que pesam contra Lula, que vinha sendo o alvo do noticiário.


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Fonte - Carta Maior